O
Rio de Janeiro e seus prédios escolares públicos:
Uma reflexão através dos cartões-postais
Maurício Thomaz de Araújo |
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Os
nossos primeiros prédios escolares* foram construídos pêlos
jesuítas que aqui chegaram em 1549. Cabe aqui ressaltar que a história
da educação brasileira começou muito antes da chegada
dos colonizadores portugueses. Os índios tinham uma tradição
social e religiosa passada de geração para geração.
O pai índio exercia, realmente, uma ação educativa
que satisfazia às necessidades sociais do grupo.
Ainda que levemos em consideração somente a educação
escolarizada oferecida pêlos conquistadores, poderíamos afirmar
que esta já havia começado antes mesmo da chegada da Companhia
de Jesus. Alguns padres franciscanos aportaram no Brasil bem antes deles.
Em 1503, com a frota exploradora, D. Manuel já mandara para cá
dois franciscanos, que desembarcaram em Porto Seguro. Mas destes não
temos notícias de prédios escolares.
Sem dúvidas, a partir da chegada da Companhia de Jesus no Brasil
o processo educacional colonizador se intensificou. A Companhia de Jesus
era norteada por princípios militares. Suas escolas eram centros
de recrutamento de futuros soldados da Companhia. Portanto, o exército
de Deus tratou logo de começar a educação dos gentios
e dos cristãos instalados na colónia.
*
Entenda-se neste artigo prédios escolares aqueles destinados ao
ensino primário e secundário.

As
primeiras cartas jesuíticas mostram que assim que chegaram os primeiros
padres, iniciaram-se as primeiras lições. Em principio,
os missionários improvisavam suas aulas. Pregavam e ensinavam a
céu aberto, quase sempre à luz do luar e da fogueira. Mas
não demorou muito para que as missões se transformassem
em colégios. Em 9 de agosto de 1549, quase cinco meses após
a chegada dos jesuítas na Bahia, o Padre Manoel de Nóbrega
escrevia ao Padre Mestre Simão seu desejo de construir ali um colégio.
Porém, enquanto o fato não se concretizava, outra carta
escrita por Nóbrega, desta vez direcionada ao Dr. Navarro, seu
mestre em Coimbra, esclarecia que em duas das principais aldeias já
se havia construído casas de ensinar. Segundo o padre estas escolas
eram de educação elementar, pequenas e muito simples. Tinham
suas paredes feitas de barro e paus e seus tetos de palha. De acordo com
as cartas, inúmeras construções deste tipo se espalhavam
por todo o litoral brasileiro.
Em 6 de janeiro de 1550, Manoel de Nóbrega redigia ao padre Simão
Rodrigues informando que aguardava resposta do mesmo para começar
a construção do colégio em Salvador. Tudo leva a
crer que o Colégio da Bahia seria o primeiro a ser construído,
mas suas obras só seriam concluídas em 1556. Antes dele
seria fundado o Colégio de São Paulo de Piratininga, em
1554.
Quanto ao Colégio
do Rio de Janeiro, seria o terceiro do Brasil. Teria sido fundado depois
de expulsos os franceses, massacrados os índios revoltosos e fundada
a cidade do Rio de Janeiro. Em nome do Rei, Mem de Sá doaria um
sítio para 50 padres construírem o prédio. Os próprios
padres escolheriam o lugar no alto de um morro que se chamaria Morro do
Castelo de S. Januário, mais tarde, simplesmente, Morro do Castelo.
Em 1585, Fernão de Cardim, escrevia em seu "Tratados da Terra
e Gente do Brasil" que o Colégio do Rio de Janeiro se localizava
no melhor sítio da cidade e de suas janelas tinha-se uma bela vista
da enseada. E, continuando, informava que as obras do edifício
novo já estavam iniciadas, que haviam sido feitos 13 cubículos
de pedra e cal e que em nada o referido edifício perdia para o
Colégio de Coimbra. Até a expulsão da ordem dos jesuítas
o colégio expandiria significativamente suas dependências.
No Brasil colonial todas as construções mais sólidas
eram construídas com cal, pedra de alvenaria e cantaria. Os colégios
dos jesuítas não fugiam à regra. Todos foram construídos
com estes materiais. As pedras abundavam não só na Bahia,
conforme relatara Gabriel Soares de Sousa, mas em todo o litoral. A cal
também não faltava. Era retirada dos vários sambaquis
espalhados por todo Brasil. Segundo Kenneth Maxwell até a expulsão
dos jesuítas, os mesmos possuíam no Brasil 25 residências,
36 missões e 17 faculdades e seminários.

Os objetivos dos jesuítas eram catequizar e domar os índios
através dos aldeamentos e preparar os colonos para serem clérigos
e amanuenses a fim de servirem respectivamente à Companhia de Jesus
e às Companhias de Comércio e Navegação. Uma
educação estritamente literária e humanista, quase
sem utilidade prática, pois nossa economia era fundada numa agricultura
rudimentar e no trabalho escravo.
Segundo Otaíza Romanelli (1988) a educação elementar
era dirigida "para a população índia e branca
em geral (salvo as mulheres), educação média para
os homens da classe dominante, parte da qual continuou nos colégios
preparando-se para o ingresso na classe sacerdotal, e educação
superior religiosa só para esta última. A parte da população
escolar que não seguia a carreira eclesiástica encaminhava-se
para a Europa, a fim de completar os estudos, principalmente na Universidade
de Coimbra, de onde deviam voltar os letrados". A educação
também funcionava como sinónimo de distinção
social.
Índios, mamelucos, negros e mulatos jamais tiveram ingresso nos
estudos mais avançados dos colégios jesuítas. Os
poucos colégios que existiram sempre foram privilégios de
uma minoria.
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