"O ABANDONO DA MEMÓRIA NACIONAL"
Fernando Campos

         Ainda é restrita - neste país - a reflexão sobre a importância da memória: o interesse por este campo de trabalho e teorização suscita alguma aversão - na sociedade leiga - , pois que visto como uma atitude de nostalgia; ou, como diriam os modernistas de 22, passadista. O homo pós-modernista não quer saber, como o homo situado na Belle Époque, deslumbrado com a técnica da cinematografia - por exemplo - , do passado recente ou mediato.
         Tudo o que o ser humano nos legou - quer no campo da arte, quer no da ciência - constitui importantíssimo acervo de memória: são matrizes, até, das revoluções e dos renascimentos - no campo das artes, da arquitetura, da música etc. Avançamos, isto sim, no setor de preservação (tombamento) do chamado patrimônio histórico e artístico. Mas os inúmeros bens tombados vivem sendo destruídos pelas intempéries, pela carência de verbas e pelo uso inadequado desses espaços - bens.
         A sofisticada tecnologia da reprodução e da divulgação midiática propicia-nos, hoje, a recuperação de obras clássicas - musicais, filmicas, e outras; a técnica de restauro nos permite, combinada à informática, a (re) leitura de seculares manuscritos de excepcional valor histórico.O retorno à teoria dos antigos pensadores e cientistas instrumentaliza novas reflexões e revisão de conceitos científicos - pois que temos registros dessas teorias. Mas nada pode ser revisto - re-estudado - se não contarmos com instituições de memória, como os arquivos, os museus, as bibliotecas; uma maior atenção do Estado para com os bens tombados e, por exemplo, com áreas da cidade que apresentam belos sobrados representativos de uma concepção urbanística mais humanística que comercial. Até aqui vence a mentalidade progressista e a pós-modernidade: a preservação de bens culturais e históricos e, ainda, e a cada dia, uma luta inglória contra a postura do arrasamento e a atitude de tudo transformar em "tabula rasa", dos pós-modernistas.

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