Apesar de vários
ensaios e tentativas precursores, o selo, tal qual o conhecemos hoje,
só se tornou uma realidade postal e filatélica graças
ao sucesso da Reforma Postal Inglesa de 1839, que instituiu não
apenas a unificação das tarefas internas (reduzidas no
porte mais simples de até meia onça = 14,2g de peso a
um penny), como ainda o pagamento prévio da franquia da correspondência
(tornando obrigatório a partir de 1853).
Podemos
afirmar, sem medo de incorrer em erro, que, na época de seu surgimento,
e até mesmo muito tempo depois, o mundo não estava preparado
para ver no selo postal nada além de um timbre oficial de comprovação
de pagamento de franquia, nada mais que não lembrasse imediatamente
senão uma moeda ou uma nota de banco: a efígie do soberano
reinante (nas monarquias) e de figuras alegóricas (nas repúblicas),
ou os escudos heráldicos das peças numismáticas,
e as cifras indicadoras do valor de franquia, bureladas com linhas,
florões e arabescos (para dificultar a contrafação)
do papel-moeda corrente.
Assim,
os primeiros selos postais do mundo têm como figuração,
praticamente sem nenhuma exceção, um desses três
motivos iniciais: a efígie, o brasão e a cifra, ou uma
mistura deles. Os outros, como veremos a seguir vieram bem depois, quando,
aos poucos, o mundo foi se conscientizando de que o selo postal servia
para algo muito mais nobre do que simplesmente representar um atestado,
um recibo de pagamento prévio de serviço.
A
Inglaterra, reproduzindo o perfil
da cabeça da Rainha Vitória, a partir de uma medalha
comemorativa, inaugura o tipo “efígie” nos
selos ordinários, com o “Penny
Black” e o “Two Pence
Blue”, em 1º/5/1840, tipo ao qual se manteria
apegada até os dias de hoje, mesmo quando procurou dar
um certo destaque às cifras, como nos selos de uma e
cinco libras de 1867-1882, 1884 e 1902-1910.
Conquanto
tivesse sido a Suíça a iniciadora do tipo “cifra”
na emissão de selos, com os do Cantão de Zurique
de 1843, nos valores de 4 e 6 rappen (destacando-se os algarismos
brancos e sombreado negro de linhas retilíneas sobre
um fundo de burelagem quadriculada em forma de losango), não
iria ela retomar esse tipo de figuração, assim
mesmo combinando-o com escudo de armas, senão em 1882,
em duas séries de 5 e 8 selos, respectivamente.
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Penny Black |
Two Pence Blue |
selo suiço de 4 Rappen de Zurique |
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A
Suíça destacou-se sim, e
muito não somente como promotora, mas principalmente como cultuadora
do tipo “escudo ou brasão”, que ela inaugura com
os selos do Cantão de Genebra, impressos
em preto sobre verde, ainda em 1843. Estes selos, no valor de 5 cêntimos
cada, em que se destacavam o escudo e a divisa de Genebra, individualmente
serviam para o porte local, mas, impressos dois a dois , formando um
selo duplo no valor de 10 cêntimos, eram destinados ao porte cantonal.
Com mesmo motivo e valor individual de 5 cêntimos, e para o porte
cantonal, aparecem dois selos entre 1845 e 1848, também em preto
sobre verde, e outro na cor verde (sobre branco) no ano seguinte. Aliás,
este último não foi propriamente emitido como selo. Na
realidade, recortado de um envelope em que era impresso, ele teve seu
emprego na selagem de correspondência legitimado por um decreto
especial.
Coube
ainda à Suíça outro pioneirismo: o da impressão
do primeiro selo do mundo em duas cores, preto e vermelho, o famoso
“Pomba de Basiléia”,
na cidade do mesmo nome, em 1845, de formato quadrangular e no valor
de 2 ½ rappen, também do tipo “brasão”.
Seguindo essa orientação bicolor para os selos tipo
“escudo” ou “brasão”, preto e vermelho
sobre branco, no Cantão de Genebra são emitidos os selos
locais de 4 e 5 cêntimos, os chamados “selos
de Vaud”, entre 1849 e 1850, com uma cruz branca sobre
fundo vermelho dentro do escudo negro formado pela trombeta do postilhão
(símbolo dos correios). Também destacando-se em campo
vermelho, circundando pelo preto do resto do desenho do selo, aparece
a cruz branca federal no “selo de Neuchatel”
(Cantão de Genebra), de 5 cêntimos (1851) e no “selo
de Winterthur” do Cantão de Zurique (1850), no
valor de 2 ½ rappen. Todos esses, a rigor, nas cores, no tipo
e nos desenhos, serviram de base para as emissões gerais da
Confederação de 1850, 1851 e 1852, num total de 13 selos.
Nas emissões seguintes: 1854/1862, 1862 (nesta, pela primeira
vez o nome da Suíça nos selos), 1881, 1882/1904, o tipo
“escudo” aparece combinado com o de “efígie
alegórica”.
"Pomba
de Basiléia" (Basiléia) |
"Selo de Vaud" (Genebra) |
"Selo
de Neuchatel" (Genebra) |
"Selo
de Winterhur" (Zurique) |
O
Brasil, primeiro país das Américas a instituir e
usar o selo postal adesivo, manteve-se fiel à “cifra”
nos 23 anos iniciais de suas emissões, sendo desse tipo
os “Olhos-de-Boi” (1843),
os “Inclinados” (1844),
os “Olhos-de-Cabra” (1850-1866)
e os “Olhos-de-Gato”
(1855/1866). De 1866 a 1883, os “Barba
Escura” (1866), “Barba
Branca” (1876), “Auriverde”
(1878), “Cabeça Pequena”
(1881), “Cabeça Grande”
(1882), são todos do tipo “efígie” do
Imperador, com o nome do país e a indicação
do padrão monetário vigente – réis
– que não aparecem nas quatro primeiras emissões.
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|
Somente
em 1887, com um selo de 300 réis reproduzindo o Cruzeiro
do Sul e outro de 500 réis representando a Coroa Imperial,
e 1888, com um selo tipo”paisagem” de 1 000 réis
em que aparecia o Pão de Açúcar no centro,
foge o Brasil à figuração tradicional, à
qual voltaria em muitos selos e séries da era republicana.
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As
Ilhas Maurício, do Oceano
Índico, situadas próximo a Madagascar, na África,
que foram as primeiras colônias britânicas e emitir
selos (1847, com os famosos “Post
Office Mauritius”) mantiveram as efígies da
Rainha (Vitória) ou da figura alegórica da Grã-Bretanha
até 1893, quando as substituíram pelo ”brasão”
representativo das ilhas. |
selo
Post Office da
Ilha Maurício, de 1847 |
selo
alegórico da Grã-Bretanha, de 1860 |
Os Estados Unidos da América
que, entre 1845 e 1847, lançaram as célebres e raras
“emissões dos diretores de
correios”, do tipo “cifra” (Alexandria,
Baltimore, Boscawen, Blattleboro, Providence), “brasão”
(Saint Louis) ou “efígie”
de Washington (Millbury e Nova Iorque), com as emissões
gerais, a partir de 1847, mantiveram inalterado o padrão
“efígie” até 1869 (com Washington, Franklin,
Jefferson, Jackson e Lincoln), ocasião em que surgem numa
série, justamente com as “efígies” tradicionais
e o “brasão” nacional encimado pela águia
americana, um selo de e cents com a figura do cavaleiro-correio
do Pony Express, um de 3 cents com uma locomotiva puxando um comboio,
um de 12 cents com um navio “Adriático” e,
ainda, um de 15 cents e outro de 24 cents, mostrando, respectivamente,
o “Desembarque de Colombo” (quadro de Vanderlyn) e
a “Declaração de Independência”
(tela de Trumbol), os dois primeiros selos de reprodução
de pinturas que se tem noticia (excetuados naturalmente os retratos
de celebridades que inspiraram os selos tipo “efígie”
).
Essa abertura para novas figurações não tem
continuidade imediata nos selos americanos seguintes, os quais
continuam representando efígies de antigos presidentes
e personalidades importantes até a monumental série
de 16 selos retangulares grandes, de 1893, comemorativa do quarto
centenário do descobrimento da América.
Os Estados Confederados da América (sul dos Estados Unidos)
em sua efêmera existência de quatro anos, durante
a “Guerra de Secessão” (1861-1865) emitiram
mais de 70 selos provisórios e locais do tipo “cifra”
(na maioria tipografados) e um de tipo misto – “brasão”
cortado por uma “cifra” – além dos 12
selos do tipo “efígie” nas emissões
gerais para a Confederação (Alabama, Arkansas, Carolina
do Norte, Carolina do Sul, Flórida, Geórgia, Luisiânia,
Mississipi, Tennensee, Texas e Virginia). |
selos
do Diretor de Correio de Nova York, 1845
|
primeiras emissões oficiais americanas de 1847 |
mbora
a Rússia já tivesse feito
circular inteiros postais para S. Petersburgo e Moscou em 1845, e para
todo o Império três anos depois, o primeiro selo russo,
propriamente dito só foi emitido em 1º/12/1858. Este, como
todos os demais selos da Rússia até 1904 (e mesmo os emitidos
para a Finlândia e a Polônia), era do tipo “escudo”
ou “brasão”, com as “Águias Imperiais”
no centro.
A França, que inaugura o tipo “efígie
alegórica” com a cabeça de Ceres nos selos republicanos
de 1849-1850, continua com a efígie presidencial e posteriormente
imperial de Luís Napoleão (Napoleão III) entre
1852 e 1870, volta ao tipo “Ceres” no Governo Provisório
(1870-1871) e 3. ª República (1871-1875), para abandoná-lo
pelo grupo alegórico “Paz e Comércio” das
emissões regulares entre 1876 e 1900. Também alegóricos
do tipo “efígie” são os selos das séries
“Blanc”, “Mouchon”, “Merson” e “Semeuse”,
que circularam do início do século ao final da 1.ª
Grande Guerra. Outro tipo de figuração não iria
aparecer antes da série de selos em benefício dos órgãos
de guerra, emitida em 1917-1918.
Selos
tête-bêche do tipo "Ceres" de 10 cents,
1850 |
Efígie
de Napoleão III, de 1853 |
Efígie
de Napoleão III laureado |
selo de 10 cents da Bélgica com a figura de Leopoldo I
|
A
Bélgica, nos seus selos ordinários
(e até mesmo na primeira série comemorativa de 1894),
não fugiu à figuração tradicional
até 1913. De 1849 até essa data, aparecem 21 selos
com a de Leopoldo II (1869-1905) e 8 com a de Alberto I (que continuou
até a década de 20); e, ainda, 14 do tipo “cifra”.
A
Baviera, o primeiro Estado alemão
a emitir selos e o penúltimo a deixar de fazê-lo,
jamais fugiu aos três modelos básicos, os quais ela
foi seguindo homogeneamente: “cifra” de 1849 a 1862,
“brasão” de 1867 a 1911, “efígie”
(Luitpold e Luís III) de 1911 a 1919 e “efígies
alegóricas” em 1920. |
1 Kreuzer preto da Baviera (primeiro selo alemão
- 1849) |
|
A Itália, quer através de
seus antigos Estados, quer através das emissões oficiais
do Reino, não conheceu tipos diferentes dos três convencionais
antes dos comemorativos do cinqüentenário da unificação
italiana, emitidos em 1911. Os 5 selos austríacos da Lombardia
– Veneza de 1850 são “brasões”, os 14
de 1858-1862 são “efígies” de Francisco José
I e os 10 restantes de 1863 e 1864 voltam aos “brasões”.
Todos os 23 selos da Toscana (1851-1861),
assim como os 16 de Módena (1852-1859), os 13 primeiros de Parma
(1852-1859), todos os 25 dos Estados Pontificais (1862-1868) e os 9
primeiros de Nápoles são do tipo “escudo”
ou “brasão”. Pertencem ao tipo “cifra”
os 4 últimos de Parma (1859) e todos os 9 da Romanha (1859).
Do tipo “efígie” temos todos os 7 da Sicília
– Ferdinando II – (1859), os
8 últimos de Nápoles – Vitório Emanuel II
– (1861) e os 15 iniciais da Sardenha – Vitório
Emanuel II (1851-1861). Na Itália propriamente dita, contamos
nas emissões regulares até 1911, os seguintes números:
69 “efígies” (Vitório Emanuel II, Humberto
I, Vitório Emanuel III e Garibaldi), 12 “cifras”
e 8 “escudos” com as armas nacionais.
selo de 1/2 BAI, da Romanha 1859 |
Selo
de 1 crazia da Toscana, 1851 |
Selo
de três liras da Toscana com o escudo da Savóia,
futuras armas do Reino da Itália, 1860 |
selo da Sardenha, com a efígie de Vitório Emanuel
II, 1851
|
selo de 1 GR, da Sicília, com a figura de Ferdinando
II, 1859
|
Áustria–Hungria,
com selos especificamente para a Áustria, começou com
6 do tipo “escudo” em 1850, passando logo após à
reprodução da “efígie” de Francisco
José I, tipo quase que exclusivo de 1859 a 1913, interrompido
apenas uma vez pela série de 6 selos mistos “brasão-cifra”
de 1883. Como selos comuns a ambos os países, há 9 do
tipo “efígie” (Francisco José I) entre 1867
e 1880, e para a Hungria, isolada, até 1900 foram lançados
12 selos com a “efígie” do Imperador e 24 com a “Coroa
de Santo Estevão” (tipo “brasão”).
Todos
os selos da Espanha emitidos até
1905 não apresentaram variação temática:
129 “efígies” da Rainha Isabel II, 12 de Amadeu
I, 40 de Alfonso XII, 30 (até então) de Alfonso
XIII, 12 “efígies alegóricas” da Regência
(1870), 20 alegorias republicanas (1874-1875), 16 “brasões”
e 4 “cifras”. O mesmo esquema de emissões,
com absoluta predominância das “efígies”
sobre os dois outros tipos, foi seguido para as colônias
(Antilhas, Cuba, Filipinas e Porto Rico), até a ocupação
destas pelos Estados Unidos na Guerra de 1898. |
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selo
de 2 reales da Espanha, com erro de cor (azul e lugar de
vermelho), 1851 |
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Segunda colônia inglesa a emitir selos, a Guiana
se destaca por detalhes filatélicos: possuir o selo mais
raro do mundo – o 1 centavo preto sobre magenta, de 1856
– do qual apenas um exemplar é conhecido, e ter emitido
proporcionalmente mais selos provisionais ou de emergência
do que qualquer outro país. Exceção feita
aos 4 primeiros provisionais de 1850 e aos 3 de 1862, do tipo
“cifra”, todos os 80 selos restantes da Guiana, até
1898, são representativos do “escudo” da colônia:
um veleiro circundado pelo dístico latino: “DAMUS
PATIMUS QUE VICISSIM”.
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selo provisional de 4 cents da Guiana Inglesa, 1856 |
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Nova Gales do Sul (sudoeste da Austrália), a colônia
seguinte dos britânicos a lançar selos, mostra
duas peculiaridades filatélicas. A primeira é
apresentar nos 7 primeiros selos de 1850, como “brasão”
da colônia, uma paisagem da capital – a baía
Baotany – limitada por uma faixa circular que encerra
a divisa: “CAMB. AUST. SIGILLUM NOV.”; a segunda
é a de ter sido o primeiro país do mundo a emitir
selo com indicação de uma comemoração:
os dizeres “ONE HUNDRED YEARS”, nos selos de 1888,
relativos ao centenário de Sydney. Entre 1850 e 1888,
excluindo-se os já mencionados 7 do tipo “brasão”,
erroneamente denominados “Vistas de Sydney”, os
outros 51 selos são “efígies” da Rainha
Vitória.
José
Luiz Perón
Prof. De Filatelia da ESAP.
Revista
COFI nº 53 / Julho 1981
|
Selo
de 1 Penny de Nova Gales do Sul impropriamente chamado
de "Vista de Sydney", 1850 |
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A figuração
ou motivo dos selos clássicos (2ª parte)
José Luiz Perón
Dos Estados Alemães que emitiram selos
a partir de 1850, o Hanôver, em seus 14 anos de independência
filatélica produziu 12 de tipo “brasão”, 8 de
“efígies” e de 5 “cifras”; A Prússia
fez 13 “efígies” de Frederico
Guilherme IV, 12 escudos da “Águia Imperial”
e 2 “cifras”, antes de tornar-se o núcleo da Confederação
da Alemanha do Norte e da própria Alemanha; O Saxe apareceu com
1 “cifra” , 11 “efígies” (5 de Frederico-Augusto
II e 6 de João I) e 8 “escudos”; o Schleswig-Holstein
apresenta 2 selos tipo “brasão” e 22 do de “cifra”.
Dos Estados que adotaram o selo a partir de 1851, o Wurttemberg, em suas
emissões regulares lançou 31 selos do tipo “cifra”
e 30 do “brasão”; o Baden teve 10 do de “cifra”
e 15 do de “brasão” ou “escudo”; todos
os 16 de Oldemburgo reproduzem o “escudo”
de armas da cidade.
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selo
de 1 schilling, de Schleswig-Holstein, com o escudo da águia
bicéfala, de 1850 |
selo
1/10 de Thaler, de Oldemburgo, de 1852 |
selo
de 5 grote de Bremen, 1856 |
selo
de 1 silber groschen, da Prússia, de 1850, com a figura de
Frederico Guilherme IV. |
Os outros Estados que emitiram seus selos nos anos seguintes, até
a criação da Confederação da Alemanha do Norte,
em 1868, também não fugiram aos três modelos primordiais:
todos os 52 selos dos “Príncipes Postais”
Thurn & Táxis foram do tipo “cifra”; do tipo “escudo”
ou “brasão” tivemos os 7 selos de Bergedorf, os 15
de Bremen, os 17 de Brunswick, os 14 de Lübeck,
os 8 do Mecklemburgo-Schwerin e os 6 do Meklemburgo-Strelitz; os 23 selos
de Hamburgo apresentam-se com “cifra” em primeiro plano e
o “brasão” da cidade ao fundo. Em “cifras”
são todos os 24 selos da Confederação da Alemanha
do Norte (1868-1869) e uma seqüência de cifras e escudos é
o que o Reich Alemão apresenta de 1872 a 1900, quando surge então
em cena o tipo “Germânia” (efígie alegórica).
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Selos
dos “Príncipes Postais” Thurn & Táxis
de 3 silb. grosch e 6 kreuzer, de 1852, dos Estados do Norte e do
Sul da Alemanha, respectivamente |
A Dinamarca que começou com um selo
do tipo “cifra” e outro do tipo “escudo” em 1851,
vai continuar com esses dois tipos, alternados ou combinados, até
1904, quando das primeiras “efígies” de Cristiano IX,
em 5 selos.
De “cifra” os provisórios e de “efígies”
os definitivos, assim são os selos do Havaí
entre 1851 e 1894.
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Selos
"Missionários" (provisórios) do Havaí,
de 1852 |
selo
com a efígie de Kamehameha III, de 1853, do Havaí
(definitivo) |
Dos 72 selos do Canadá que saíram
entre 1851 e 1898, 71 pertencem ao tipo “efígie”
(69 da Rainha Vitória, 1 do Príncipe Alberto, outro
de Jacques Cartier). O outro selo, por sinal o primeiro de todos,
de 3 pence, vermelho, representa um castor. Embora este selo possa
(e deva) figurar numa coleção de Fauna, longe de ser
uma emissão especifica, de caráter temático,
ele é, na verdade, por incrível que possa parecer,
um selo do tipo “escudo” ou “brasão”,
porque o castor era o emblema nacional do Canadá (assim como
hoje o é a folha de bordo) e, como tal, figurava em moedas
e notas de banco.
As
diversas partes do Canadá, antigamente
separadas do Domínio, pelo menos até 1860, tiveram
suas emissões próprias de selos restritas às
“efígies” vitorianas (ou do resto da Família
Real) e aos “brasões” da colônia: os 3
iniciais de Nova Brunswick (1851),
os de n.º 2, 3 e 4 na Nova Escócia (1851-1853) e os
1.º e 15.º da Terra Nova
(1857) reproduzem as quatro flores heráldicas do Reino Unido
da Grã-Bretanha circundando a coroa real de Santo Eduardo;
os selos restantes da série de 1857 e 1862 e todos da de
1862 de Terra Nova representam as flores heráldicas da cidade
de São João (a capital) – a rosa, o cardo e
o trevo; o primeiro e os 6 últimos selos da Nova Escócia
retratavam a Rainha Vitória, assim como 3 dos 6 selos de
Nova Brunswick de 1860 a 1863, os 5 primeiros da Colúmbia
Britânica e todos da Ilha Príncipe Eduardo. |
selo
de Nova Brunswick com as flores heráldicas do Reino
Unido, de 1851. |
selo
triangular de 3 pence, de Terra Nova (Canadá) com
as flores heráldicas da cidade de São João:
a rosa, o cardo e o trevo. |
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A
rigor, a primeira quebra do triptico clássico (efígie/cifra/escudo)
ocorreu nos selos da colônia de Nova Brunswick, em 1860, quando,
numa série de selos aparecem dois de figuração não-tradicional:
o de 1 cent, lilás, com uma locomotiva a vapor alimentada a lenha
e o de 12 ½ cents, azul, com um navio, misto de vapor e veleiro.
|
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Selos
de Nova Brunswick, de 1860, que fogem à figuração
tradicional da efígie, do brasão e da cifra. |
A
ilha de Trindade, ao largo da Venezuela,
com 46 “efígies” alegóricas da “Britânia”,
imponente em seu trono imperial, e 8 da soberana inspiradora da alegoria,
até 1898, juntamente com a administração antônoma
de Vitória (parte sudoeste da Austrália, com 139 selos,
entre 1851 e 1904, retratando a rainha que deu seu nome à região,
foram as próximas colônias de Sua Majestade Real Inglesa
que tiveram selos a partir de 1851. Do ano seguinte, até 1878,
Barbados, a próxima colônia do Caribe a surgir filatelicamente
para o mundo, faz constar a alegoria da “Britânia” semelhante
à de Trindade, em seus selos, figurando só na série
de 1882-1886 a “efígie” vitoriana.
O Luxemburgo, de 1852 a 1920, produziu
6 séries do tipo “efígie” com Guilherme
III (1), Adolfo I (2), Guilherme IV (1) e Maria Adelaide (2),
num total de 60 selos, 5 de “escudos” (46 selos) e
uma de “efígies alegóricas” (12 selos),
enquanto a Holanda, a partir do mesmo
ano até o final do século, tinha emitido 21 “efígie”
de Guilherme III e 31 de Guilhermina, além de 7 selos de
“escudos” e 5 de “cifras”.
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selo
de 10 centimes, de Luxemburgo, com a figura do príncipe
Guilherme III |
selo de 5 cents da Holanda, de 1852, com a figura do rei
Guilherme III
|
|
Reunião,
primeiro território colonial francês a ter seus próprios
selos, começou com uma série provisional local (tipo
“cifra”) em 1852; as emissões seguintes recomeçam,
depois de um interregno de 33 anos, com os selos especiais para
as Colônias Francesas “Águia Imperial”
(escudo), “Napoleão laureado” e “Ceres”
(efígies) sobrecarregados.
O Chile destaca-se por uma originalidade
no campo da Filatelia: todos os seus 50 selos dos primeiros 50
anos de emissões (1853-1903) retrataram o descobridor da
América Cristóvão Colombo.
Dos 95 selos de Portugal até
1894, 92 são “efígies” reais (D. Maria
II, 4; Pedro V, 8; D. Luís I, 50; D. Carlos I, 30) e 3
de “cifras”.
A
colônia inglesa do Cabo da Boa Esperança,
conquanto inovadora no formato dos selos (os 13 primeiros são
triangulares) revelou-se conservadora no tema: 47 anos de “efígies
alegóricas” entre 1853 e 1900. Em matéria
de conservadorismo, a Tasmânia não fez por menos:
no mesmo período só produziu “efígies”
vitorianas.
|
selo de 20 centavos com a efígie de Cristóvão
Colombo, do Chile |
selos de Portugal de 25 réis (1855), com a efígie
de D. Pedro V e de 5 réis (1835) , com a efígie de
D. Maria II, respectivamente. |
selo triangular do Cabo da Boa Esperança, de 1853 |
Todos
os selos da Austrália Ocidental (1853
– 1913), com exceção dos altos valores da série
de 1902 (5 selos), em que aparece a “efígie” da Rainha
Vitória, trazem a figura de um cisne e se enquadraram, do mesmo
modo que o do castor canadense, no tipo “brasão”, já
que este pássaro, que deu nome à primeira feitoria do rio
dos Cisnes, era emblema da colônia e, como tal, figurou em selos,
em filigranas de papel e em moedas.
A Índia, que se iniciara nos
selos sob a égide do domínio britânico com os
três selos provisionais locais do Distrito de Scinde em 1852,
continua as emissões com os gerais da Companhia das Índias
(até 1858), depois com os do Governo da Rainha (até
1877) e, por fim, os do Império da Índia, todos com
a “efígie” da Rainha Vitória, num total
de 56 selos. As “efígies” dos monarcas ingleses
(Eduardo VII e George V) seguem exclusivas nos selos até
1924 e preponderantes (George V e George VI) depois dessa data,
até o final do Império (1941).
|
selo
de 1/2 anna do Distrito indiano de Scinde, de 1852 |
|
selo da Suécia de 5 skilling banco, de 1855, com
as armas reais do país
|
selo de 4 skilling, da Noruega, de 1856, com a figura do
rei Oscar II. |
|
A Suécia, parceira da Guiana
na primazia de possuir o selo mais raro do mundo (um exemplar único
de 3 skilling banco, amarelo, de 1855), com 51 selos nos primeiros
quarenta e sete anos de emissões (1855-1892), teve, nesse
período de tradicionalismo, na figuração dos
selos, 20 do tipo “escudo” ou “brasão”,
19 do tipo “cifra” e 12 do de “efígies”
(Oscar II). A Noruega, como reino unido
à Suécia na pessoa do rei Oscar II (até 1905)
e mesmo depois de autônoma (Rei Haakon VII), até o
aparecimento de seu primeiro selo comemorativo em 1914, só
produziu selos dos tipos “brasão” e “efígie”,
com nítida prepondência do primeiro.
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Vitorianas
em suas emissões exclusivas da “efígie”
da soberana, a Nova Zelândia
e a Austrália do Sul não
conheceram outro tipo de selo de 1855 até 1898 e 1899, respectivamente.
Santa Helena e Ceilão, entre 1856 e 1902, também não
tiveram nos selos outro motivo que o semblante da Rainha, substituído
no ano seguinte pelo de Eduardo VII. |
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selo
da Nova Zelândia, de 1 penny, de 1855, com a figura da Rainha
Vitória |
selo
imperial do México, de 1864, no valor de 2 reales |
selo
do México de meio real, de 1856, com a figura de Miguel
Hidalgo |
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Depois
do Brasil e dos Estados Unidos, os próximos países
soberanos das Américas a contar com selos foram o México
e o Uruguai em 1856. O México
teve as suas séries de selos de “efígies”
de Hidalgo interrompidas entre 1864 e 1867 pelos “brasões”
imperiais e “efígies” de Maximiliano, imperador
austríaco imposto pela ocupação francesa do
país. Entre 1877 e 1882 aparecem duas séries de “efígie”
de Juárez e, antes da última de Hidalgo em 1884, surge
uma de “cifras” em 1882, continuada por cinco outras
iguais ou semelhantes até 1895. Enquanto isso, o Uruguai
se mantinha dentro do padrão “escudo alegórico”
até 1866, ocasião em que trocou-o pelos selos do tipo
“cifra”. Os de “efígie” datam de
1881-1882 e outras figurações além das três
mencionadas não aparecem antes de 1895 |
Os países seguintes que tiveram seus selos postais nacionais foram,
também no continente americano, o Peru e
a Argentina, em 1858. Todos os selos peruanos
até 1865 (e mesmo alguns posteriores) representam o “escudo”
de armas da República. Os tipos seguintes – “lhamas”
(1868-1873) e o comemorativo da inauguração da estrada de
ferro Callao-Chorrillos (1871) – fogem aos três modelos clássicos,
modelos a que o Peru retorna entre 1874 e 1893. Os selos iniciais da Argentina,
tanto os da Confederação (1858), quanto os da República
(1862-1864) eram do tipo “escudo” ou “brasão”,
sentavam o tipo “efígie”. De “efígies”,
imitação grosseira do tipo ”Ceres” francês
de 1849, foram todos os selos da província de Buenos Aires (1858
e 1859) bem como a única regional de Córdoba (1858) pertencem
ao tipo “escudo”.
A
România, que teve seus primeiros selos
(“escudos”) ainda sob o título de Principado da Moldávia
em 1858, depois da anexação da Valáquia (1859), como
Principado (até 1881) e depois como Reinado (a partir de 1881),
produziu até 1903, 10 “brasões” e 130 “efígies”
(Alexandre-João I e Carlos I) em 140 selos.
A Venezuela e a Colômbia
(Nova Granada no inicio) começaram suas emissões com selos
de “escudos” em 1859. As primeiras “efígies”
venezuelanas datam de 1800 e as colombianas, de 1876. Enquanto o primeiro
desses dois paises só vai fugir aos padrões básicos
tradicionais com a série comemorativa do 4.º centenário
do descobrimento da América, em 1892, o segundo fá-lo bem
depois, com a série ordinária de 1902-1903
selo
de 1 dinero, do Peru, de 1858, com as armas nacionais
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selo
de 15 centavos da Confederação Argentina, de 1858,
com as armas da República |
selo de 1/4 de centavo, da Venezuela, de 1861 |
selo de 2 1/2 centavos da Colômbia (Nova Granada), 1859
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Com
emissões a partir de 1859, as Bahamas
não conheceram antes de 1900 nenhuma figuração
em seus selos que não a efígie da Rainha Vitória.
O mesmo ocorreu com quase todas as demais colônias inglesas
que tiraram selos ainda dentro do período vitoriano: Natal
(1859-1902), Malta (1860-1900), Jamaica (1860-1900), Queensland
(1860-1900), Santa Lúcia (1860-1902), Granada (1861-1898),
São Vicente (1861-1902), Serra Leoa (1861-1902), Antígua
(1862-1902), Bermudas (1865-1902), Malaca (1867-1901), Honduras
Britânia (1866-1901), Heigoland (1867-1875), Turk &
Caicos (1867-1899), Gâmbia (1869-1900), São Cristóvão
(1870-1902), Dominica (1874-1902), Lagos (1874-1903), Costa do
Ouro (1875-1902), Montserrat (1876-1902), Falkalnd (1878-1903),
Nevis (1879-1890), Tobago (1879-1898), Zululândia (1888-1889),
Leeward (1890-1902), Zanzibar (1895-1896), Nigéria do Norte
(1900-1901) e Nigéria do Sul. África Central Britânica,
a África Oriental Inglesa, a África do Sul e Bornéo
do Norte, com “brasões”, os Estados Indianos
com ”cifras” na maioria, as ilhas Virgens com “efígies
alegóricas” são as exceções
do período.
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selos
das Bahamas, de 1 penny e 6 pence, respectivamente, de 1859
e 1861, com a figura da rainha Vitória. |
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selo
de 3 pence do Canadá, de 1851, com a figura heráldica
do castor |
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Como
tivemos a oportunidade de ver, embora as duas primeiras mudanças
efetivas na padronagem dos selos ocorressem na década de
1860, no Canadá e nos Estados
Unidos, elas não se generalizaram senão antes
do último quartel do século passado e, assim mesmo,
um número razoável de países que emitiram
seus primeiros selos depois daquela data dobrou a marca dos 1900
sem fugir às “efígies”, às “cifras”,
e aos “brasões”, como Costa Rica (até
1900), Bulgária (até 1902), Sérvia (até
1904), Bósnia-Herzegovina (até 1905), Paraguai (até
1905), Haiti (até 1906), Equador (até 1908), Colônias
Portuguesas (até pelo menos 1910), Turquia (até
1911), Nicarágua (até 1912), Bolívia (até
1916), Levante (até a 1ª. Grande Guerra), Índia
Portuguesa (até 1919), Islândia (até 1925),
Índia Holandesa (até 1930) e Irã (até
1935).
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BIBLIOGRAFIA
AUDRAS, René-Pierre, Lês Timbres. Paris, Stock, 1972.
BLAIR, Arthur. The World of Stamps and Stamps Collecting. London, Hamlyn,
1972.
MACKAY, James A. L’Univers des Timbres. La Periode Classique 1840-1870.
Fribourg (Suíça),
Office du Livre, 1972.
YVERT & TELLIER. Catalogue de Timbres-Poste. Amiens, Yvert & Tellier,
1981, 5 tomos.
José Luiz Perón
Prof. De Filatelia da ESAP.
Revista
COFI nº 54 / Agosto 1981
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