PAULUZ
BODMER

TERRA
EM
TRANSE

PARÁBOLAS
DA NATUREZA

2006

No planeta da ilusão
o barco da vida
está indo para alto mar.

O que está em jogo hoje
é a vida terra.

Com a grande nau avariada,
aos poucos, ela vai
se afundando no vazio.

E o aquecimento continua...

Livre do homem
e de suas mazelas,
o planeta vai se
recuperar rapidamente.

A humanidade tornou-se
uma praga, que destrói
os outros animais
e coloca em risco
o equilíbrio do planeta.

Livre do ser humano
a primavera vai florir
em dobro.

Ele falava várias línguas
mas era língua dos pássaros:
- falava ararurês, papagaiês
e outras mais e vivia feliz

Passava o dia observando
as aves, que vinham comer
as migalhas que ele colocava
no parapeito da janela.

Mas um dia, apareceu
um executivo,
que só vivia
para ganhar dinheiro
e disse que o importante
não é falar a língua dos pássaros,
mas falar inglês.

Com o passar do tempo
ele descobriu que
a ignorância anda a cavalo.

9 - TERRA ARRASADA

Madeireiros cortam árvores
e os troncos são levados pelos rios
para as grandes cidades.

Fazendeiros destroem a mata
e plantam capim
para alimentar o gado.

O futuro da humanidade
está em jogo,
mas a manada humana
fica vendo televisão.

A natureza conseguiu criar vida do nada.
O homem, feiticeiro do universo,
resolveu imitá-la e deu tudo errado.

Da floresta fez o deserto,
do ar puro a poluição,
da química fez o plástico
que não é biodegradável
e por aí vai.

Nas flores artificiais
criadas pelo homem,
nenhuma borboleta bota os pés.

Em simulações feitas no computador,
o resultado foi surpreendente;
dentro de algumas décadas
a humanidade será banida da face da terra.

No lugar da gente e dos passarinhos
virão os urubus, que não precisam
de árvores nem de flores.

Sem florestas, nem água
e com o ar todo poluído
a poesia vira carniça.

Taxas de poluição alarmantes,
Crescimento da miséria,
Exploração desenfreada dos
recursos naturais não renováveis,
deterioração do meio ambiente
e nenhuma esperança ao amanhecer.

É a civilização do desperdício,
carregando a bandeira do “progresso”,
em marcha acelerada
para a meta final:
transformar a terra num
imenso deserto nos oásis ...

E tem gente que ainda pergunta,
Quais as chances de sobrevivência?

A natureza,
com paciência e muita chuva,
foi transformando a terra
numa imensa floresta
cheia de vida e de pássaros.

Mas aí apareceram os homens,
que só pensam em ganhar dinheiro
e com sua inteligência retardada
foram derrubando as matas.

Depois das árvores cortadas
virá o grande deserto
onde no lugar de frutos,
os homens irão comer areia
e ver miragens.

Tenho uma grande coleção
de miniaturas de elefantes:
são de pedra, porcelana,
madeira, bronze, cristal, etc.

Sempre gostei deste bicho
que não come a carne nenhuma,
apenas se alimenta de frutos e folhas.

Quando ele é abatido tem carne
em abundância para todos.

Nenhum animal carnívoro,
seja tigre, leão, qualquer um,
tem coragem de atacar
um elefante adulto,
e que no reino animal
só tem um predador:
o homem, que o mata a distância,
para roubar o seu marfim
para fazer pulseirinhas ...

E continuam destruindo a natureza:
nos jardins sem flores,
no lugar das pétalas
só nascem espinhos.

No deserto humano
já começam a voar
borboletas de sangue.

Havia uma música famosa
que se tocava no fim dos bailes
de carnaval: “Ai, Ai, Aiá,
ta chegando a hora,
o dia já vem raiando, meu bem,
é hora de ir embora”

Da maneira como o homem
continua poluindo o planeta,
breve, breve, vão cantar assim
Ai, Ai, Aia,
ta chegando a hora,
a terra está morrendo meu bem,
é hora de ir embora,
p’ra sempre.

Até o mais ínfimo
dos pirilampos,
que apagam e acendem
na escuridão,
contribui para o
equilíbrio da natureza
muito mais que nós,
estúpidos seres humanos.

O mar não está
pra peixe, dizia o pescador
que já estava ali
há horas
tentando fisgar
alguma sardinha.

Ultimamente não tenho
pescado nada
e a fome tem aumentado
na minha casa.

Acontece que a baía
está muito poluída
e no lugar dos peixes,
quem abocanha o anzol
são as garrafas de plástico.

Lá estava o Jequitibá
há mais de 100 anos
no mesmo lugar.

Suas raízes profundas
se aproximava de um lago,
que refletia a lua.

Dos seus galhos vinha
o canto dos pássaros
e também o seu lamento.

Um dia chegaram uns homens,
que aterraram o lago
e derrubaram a árvore.
No lugar dela apareceu
uma tabuleta que dizia:
aqui jaz a enorme árvore
de 50 metros de altura.
O Jequitibá ficava na estrada
que estava sendo asfaltada
para que a ignorância humana
passeasse com seus carros.

Quão ridículo são aqueles
que em determinado momento
pensam que são alguma coisa.
Quanta arrogância e estupidez!

Sob o olhar da natureza,
qualquer urubu
é mais importante que nós,
que só servimos para poluir
o meio ambiente,
consumir e desperdiçar
os recursos naturais.

E tem gente que ainda
pergunta: quem somos nós?
E o tempo que passa responde
que não somos nada.

O tempo transforma
tudo em cinzas,
menos a natureza.

Quem transforma
a natureza em cinzas
é o homem,
com suas máquinas
e seus sonhos de grandeza.

Compraram u`a máquina
e botaram
150 empregados na rua

Depois compraram outra,
mais moderna,
e botaram 500 na rua.

E o progresso é isso,
ele só pensa no lucro.
Você que se dane...

Não são apenas folhas que caem,
diz o inverno, que se aproxima.

Mais uma árvore derrubada,
dezenas de passarinhos sem ninhos
e meia dúzia de insensatos
achando que isto dá lucro.

Aqueles que derrubam árvores
deveriam ser pendurados nelas.

Nós não precisamos disto
se podemos diversificar
as nossas fontes de energia
com custos mais baixos
e menor impacto ambiental.

Energia oriunda da biomassa
é mais promissora que a nuclear.
Precisamos de energia limpa e segura
como a solar e a dos ventos.

As usinas de Angra I e II
são muito boas para queimar
dinheiro público
e produzir lixo atômico
que nem sabemos onde enterrar.

Isto tudo sem falar
que não temos nenhuma filosofia
de prevenção da radioatividade.
Se der zebra, salve-se quem puder,
pois na nossa pátria amada
irresponsabilidade não é crime.

O deserto que avança
já foi uma imensa floresta
cheia de bichos e de pássaros

Mas um dia chegaram
os homens com as motoserras
e as árvores foram tombando.

A floresta, que é o pulmão
da terra, está doente.
Tiram radiografias dela mas nada fazem.

Sem primavera não há flores.
e sem borboletas não há vida.

Não foi
o homem
que conquistou
a terra,
foi o lucro.

O homem é
um mero capataz
que destrói
a natureza

Começou o outono
no calendário,
e não na natureza.

Onde estão as sementes da terra
que desta vez não germinaram?

Com as árvores derrubadas
os frutos não vão aparecer.

A natureza precisa
de muitas noites e muitos dias,
pétalas rosadas e uma abelha
para fazer um fruto.

Os frutos dos homens
Ao contrário,
são de plástico
e não dá para engolir.

O Rio São Francisco nasce
no oeste de Minas Gerais
e deságua em Alagoas.

Ferida pelos esgotos
e pelas toneladas de lixo,
que nele flutuam,
o rio está doente.

A população ribeirinha diz
que é preciso revitalizá-lo,
mas o governo quer fazer a
transposição porque para ele
o rio está apenas degradado.

Mudar o rumo do rio
afrontando a natureza
através de 2 canais
com 750km de extensão

Uma obra de mais de 4 bilhões
para levar mais água para as cidades
e irrigar melhor as fazendas
que plantam frutas.

Enquanto isso,
o sertanejo pobre vai continuar
pagando carro pipa
para beber desta água
com cheiro de poluição.

A devastação continua
graças a ganância e o lucro.

Extração ilegal de madeira,
criação de gado e plantio de soja
são os vilões desta história.

As árvores são cortadas,
jogadas no chão e transportadas
para bem longe dali.

Mas Floresta é proteção
e a Amazônica é a última
grande floresta tropical
que protege a raça humana.

Para milhares de insensatos,
floresta é lucro e ganância.

Para quem não sabe
Nitynawa é cacique
da tribo Pataxó
no sul da Bahia.

Seu nome significa
“Muitas frutas” –
o que pode causar espanto
para quem vive nas cidades
asfaltadas e poluídas.

Em 1951, quando do massacre
ocorrido em Barra Velha,
atual parque nacional do Monte Pascoal,
quase foram exterminados.

Trazidos para a cidade,
o nome dos índios pataxós
ficaria assim:
“Muita doença”, muita fome
e também “muita miséria”

Dizem que os dinossauros
foram extintos
pelo choque de um asteróide,
vindo dos confins da galáxia,
contra a terra.

Mas de novo a terra está em risco
já que o asteróide humano
está dentro dela.

São bilhões de asteróides
que diariamente arrancam
um pedaço dela e eliminam
milhares de outras espécies.

As providências oficiais
e as leis em voga
são muito brandas
contra esta praga de asteróides
que é a espécie humana.

Uma chuva de pensamentos
desabou sobre mim
e minha alma se transformou
em livro, que começava assim:

- Não é a vida que não tem sentido,
somos nós, os pobres de espírito,
a espécie que só faz poluir...

No silêncio da noite,
o pio da coruja soa
como um grito de horror.

Ela sabe que os da sua espécie
estão em extinção.

Só os homens,
aqueles que visam lucro,
é que continuam achando
que a exploração da terra
não tem fim.

O que a coruja não sabe
é que o mundo dos humanos
está com os anos contados.

A mesma flor
que no jardim
desabrocha e ri
na mão do homem
chora e fenece.

O homem
é o único animal
que arranca flores.

Mata as borboletas
e transforma o jardim
num banho de sangue.

Aqui
basta jogar
uma semente
no chão
para nascer uma árvore.

É um lugar maravilhoso
para se plantar.

Nasce de tudo
que V. pode imaginar.
quase todos os frutos
e quase todas as flores
que o mundo conhece.

Neste solo tão fértil,
cheio de palmeiras
onde canta o sabiá,
só não cresce a reforma agrária

Qual é a espécie animal
que precisa do homem
para sobreviver?
– Nenhuma

Qual é a espécie vegetal
que precisa do homem
para sobreviver?
- Nenhuma

O homem está
exterminando todas elas,
mas o ser humano
não sobreviverá sem elas.

O burro de 4 patas
não destrói a natureza.
Quem a destrói é
o burro de 2 patas.

Nós não somos
descendentes do macaco,
como afirma Darwin,
mas do burro de 4 patas.

Fomos evoluindo
e hoje temos apenas 2 patas.
O cérebro é que parece
que não evoluiu.

Não existe nada
no mundo,
nenhum prédio,
nenhuma casa,
ou qualquer outra coisa
construída pelo homem,
que seja mais bonito
do que um simples
buquê de flores.

Agora imaginem
se compararmos
com um árvore florida
cheia de pássaros
e borboletas coloridas.

Em meio à tanta devastação
havia um pedaço do muro
onde estava escrito:

- Aqui jaz a civilização humana,
a mais ignorante de todas,
a que tirou da terra até a alma,
e que de todas as espécies
era a única que trocava
tudo por dinheiro...

Digam o que quiserem,
mas a seca no oeste da Amazônia
é fruto do desmatamento
provocado pelo lucro dos homens
e pelo aquecimento global.

Vários rios secaram
e os barcos dos pescadores
encalharam num monte de barro.

Apodrecendo sob o sol,
milhares de peixes mortos
descansam no chão duro
à espera dos urubus famintos.

A população da região,
totalmente dependente dos rios,
está sem água para beber;
aos poucos começa a sentir
o gosto de sangue na boca...

Não está longe o dia
em que os urubus,
num vôo rasante,
virão comer os restos
do que vai sobrar
da nossa espécie,
a mais ignorante de todas
as que já habitaram na terra,
a única que só sabia poluir.

Espero que não construam
esta usina por aqui,
apesar dos equipamentos,
todos eles importados,
já estarem aqui armazenados.

Aliás, a nação que fornece
estas máquinas, desde o ano 2000,
fechou em sua terra 19 usinas
e decidiu abandonar
a energia nuclear.

Já se passaram 20 anos
que Chernobyl está aí,
no ar que respiramos.
A leve brisa repleta
de iodo e cobalto
sopra durante muitos anos.

O mundo em que vivemos
já não é o mesmo
dos nossos avós.

O nosso mundo
está cheio de
dejetos industriais,
fertilizantes químicos,
substâncias tóxicas,
água contaminada,
plástico nos mares,
ar poluído,
que já não dá para respirar.

Vai ser cada dia mais difícil
viver num mundo assim:
aquecimento global,
acúmulo de lixo,
mudanças climáticas.

Muitos vão se arrepender
de ter nascido!!!

Abraçava as árvores
na rua e dizia:
Obrigada por tudo,
pela sombra e pelos frutos.

No outono da vida,
poucos são os que colhem
os frutos de sua imaginação.

Nestes tempos de destruição
há momentos
em que é melhor
conversar com
o silêncio das raízes.

46 - EXTINÇÃO EM MASSA

Na terra em que vivemos
está tudo em extinção;
nos últimos 50 anos
milhões de espécies desapareceram.

As flores sumiram,
os frutos caíram e apodreceram
e os manguezais foram dizimados;
borboletas coloridas e pássaros canoros
já não aparecem mais.

Para matar a sede,
já usam a própria urina
porque a água está poluída
de coliformes fecais.

Extinção em massa,
inclusive da espécie humana,
é o futuro que se aproxima.

Hoje, nesta terra,
tem muito circo
e pouco pão.

No tempo em que
havia muito pão,
era comum ver o
circo pegar fogo.

Hoje já nem ligam
mais para isto.
Quem pega fogo agora
são as florestas...

É um livro fascinante
do Prof. Jared Diamond
onde é mostrado como o
dano ambiental pode
destruir uma sociedade.

A maioria do povo brasileiro
nem toma conhecimento
deste assunto;
mas quem lê se informa
que o Brasil está caminhando
para cair no abismo.

A vida no planeta
mudou muito
E os ventos não param
de soprar.

Antigamente,
quando haviam muitas árvores,
o vento era uma brisa
que vinha do mar.

Trazia o canto das sereias
nas ondas que quebravam nos rochedos.

Hoje os ventos continuam
vindo do mar,
mas são furacões
que vem para arrasar.

Trazem o canto de guerra
da natureza contra o seu
maior inimigo: o homem
que só quer saber de lucrar.

Os 4 cavaleiros do Apocalipse
chegaram junto ao topo da montanha
e de lá observaram o mundo a seus pés.

Ficaram, ao mesmo tempo, horrorizados
e maravilhados com o que viram;
E sentiram-se pequenos diante de tanta grandeza.

O que é a guerra perto da falta d’água,
Da seca, do deserto, onde não
Cresce nada? Do calor escaldante?

A humanidade hoje está diante da maior
ameaça de que se tem notícia na vida da
terra: o aquecimento global.

Como no topo da montanha gelada
não havia mais neve
acharam que o caos estava começando.

Quem será este ser todo poderoso
Capaz de transformar a terra num inferno?
descobriram que o lucro está em 1º lugar...

A Peste ficou feliz em saber
que as enchentes trazem leptospirose
e que doenças como dengue, malária
e febre amarela estão em voga.

Com a queda na produção de grãos
a fome tende a aumentar.
Mas no lugar dos peixes a natureza
já está oferecendo ratos, mosquitos
e baratas para a humanidade se fartar.

A vantagem de ingerir estes animais
é que eles, ao contrário da carne de boi,
não tem colesterol.

Por toda parte para onde olham
eles vêem que tamanha desgraça
não acontece apenas por causas naturais.

Aqui está a mão do homem,
a sua ignorância e o lucro
de algumas empresas.

Já desde 1970
que o Clube de Roma
alertava para o problema:
- diante de recursos finitos
um crescimento exponencial
é insustentável.

Quanto mais um país
cresce economicamente,
mais cresce junto
a sua degradação ambiental.

É o tiro saindo pela culatra.
Consumir sem parar
é o sonho de muita gente,
que está virando pesadelo.

53 - QUEBRANDO O GALHO

Cuidado com os provérbios brasileiros,
pois eles se referem a tempos
que já não existem mais.

Veja, por exemplo, o dos símios:
“Cada macaco no seu galho”.

Só que os poucos monos,
que sobreviveram ao extermínio,
sabem que o provérbio agora é outro:
“Cada macaco no galho que encontrar”!

O Brasil,
com seus atletas
cheios de medalhas
não poderia deixar
de estar presente no
livro Guiness de Recordes.

Ano após ano o país detém
o recorde de devastação da mata,
que começa pela extração ilegal
de madeira e segue com queimadas
que limpam o terreno para a agricultura
e depois para o pasto.

Com o desmatamento
a floresta perde umidade.
Com a seca há menos água no solo
para evaporar comprometendo
a formação de chuvas.

Quando a vegetação fica mais seca
os incêndios começam a aflorar.

Mas o Brasil irá continuar no livro.
Só que com o seu novo recorde : o deserto
amazônico, o mais extenso do mundo.

Havia um lugar enorme,
que era 1/3 do Brasil
cheio de árvores, rios,
cachoeiras, pássaros e índios,

Mas a extração de madeira
e o aumento dos pastos
foi matando a floresta
e secando os rios,
cujo último peixe-boi
jaz no leito d’uma estrada.

Agora as pessoas de lá
estão passando fome e sede,
abandonadas à sua própria sorte
e sem nenhuma esperança
ao amanhecer.

Não deixem de ler
este livro do Reeves e Lenoir,
onde ficamos sabendo,
que no ritmo em que vivemos,
consumiríamos, lá por 2150,
tanta energia quanto o sol.

Vai ser uma hipótese
difícil de ser comprovada
já que não teremos
combustível para tal.

Aliás, para quem não sabe,
o mal da terra somos nós.

Fazem apenas alguns anos
que muitos diziam
a respeito da deterioração
do mundo, que era preciso
fazer alguma coisa
“enquanto é tempo”.

Mas a deterioração do
meio ambiente,
a exploração desenfreada
dos recursos naturais
e a miséria crescente
leva-nos a afirmar
que a para a nossa espécie
o tempo está se esgotando.

As fontes secaram.
um passarinho pousado
na cabeça d’uma estátua
olha para o horizonte.

Quando a última árvore
foi cortada é que
os homens entenderam
que dinheiro não alimenta

Esta sociedade produtivista,
sempre insaciável,
segue a todo vapor
poluindo o ar que respiramos.

A economia baseada no lucro
não quer nem saber
o que está acontecendo;
Só interessa consumir mais
e ganhar muito dinheiro
para depositar na conta.

Começaram a construção
do condomínio
e logo de início

Asfaltaram as estradinhas
de terra
e para isso desmataram
dezenas de árvores.

O riacho que corria
Lá dentro secou e
os pássaros desapareceram.

No lugar das árvores
que as casas desmataram,
colocaram plantinhas
nos vasos das varandas.

O empreendimento
era conhecido
por condomínio das garças,
aves estas que já haviam
migrado há muito tempo.

Progresso na cabeça
desta gente é lucro
e destruição.

Dizem por aqui que a
economia está crescendo
e os empregos aumentando,
apesar da gente não ver nada disto.

Poluição do ar,
desertificação,
desastres naturais,
erosão do solo,
acúmulo de lixo,
falta d’água,
problemas de saúde
e sei lá mais o que
também estão subindo.

É um círculo vicioso.
Quanto mais a economia cresce,
mais os problemas ecológicos
aumentam de tamanho.
Se ela decrescer,
aumenta a miséria e a fome.

Antigamente,
o lixo era de folhas,
frutas caídas,
e alguns animais.

A natureza degradava
os dejetos vegetais
e os urubus comiam o que restava
da carne apodrecida.

Como a lagarta
que vira borboleta
o lixo agora é mais sofisticado.

e se transforma em
grandes quantidades de
metais, vidros e plásticos,
resíduos estes que os urubus
nem querem ouvir falar.

Mesmo sendo enterradas,
estas coisas não desaparecem
e continuam poluindo.
São criações do homem,
o “sábio” do universo.

Água, terra e vida,
3 palavrinhas tão simples
mas que querem dizer tudo.

Sem água não há
vida animal.
Sem terra a vida
vegetal não tem como
germinar e florir.

Sem vida não sei
como seria
mas os homens estão
se encarregando de
acabar com isto
o mais rápido possível.

Queimando as árvores
e exterminando os animais,
o efeito será devastador.
Que nome dar para este futuro
cada dia mais presente?

A borboleta a toca suavemente,
o beija-flor a suga
e a abelha a transforma em mel.

O homem, dela, faz um buquê
para dar à sua amada
ou enfeitar as suas crenças.

Mas a primavera sabe
que o homem é o único animal
que arranca as flores,
derruba as árvores,
e mata os outros animais ...

Tempestade de areia,
chuva ácida,
capim venenoso,
cancro. de castanheiro,
besouro de chifre longo
marés vermelhas,

vocês já viram isto por aqui?
Ninguém perde por esperar.
Elas estão chegando:
plantas daninhas,
salinização
e água poluída,
cheia de coliformes fecais
para matar a sede.

Nas grandes cidades
estão matando as flores
transformando os jardins
das casas em prédios
sem jardins.

As flores estão desaparecendo
e, com elas as borboletas,
os pássaros e os sonhos.

A desgraça humana
consiste em extinguir
primeiro (florestas)
e depois os outros animais.

É impressionante notar
como os homens
trabalham sem cessar
para a sua própria destruição,
já que sem árvores e bichos
não temos condições de sobreviver.

Afinal de contas,
quem somos nós,
tem alguém por ahí
que sabe responder?

A natureza sabe que somos
uns nada metidos a besta.

É primavera,
as não vejo flores
nem escuto o
canto dos pássaros.

É primavera,
mas as borboletas coloridas
nem s aproximam
das plantas.

É primavera,
mas no ar parado
o Cheiro de esgotos
a céu aberto.

Quando a natureza
não manda flores,
a tua vida vai murchando.

As pessoas se afastam da natureza
e já não entendem o seu grito.
Nas águas que caem em cima das pedras,
perguntam se há um grito de dor
ou uma canção de amor ?

E a cachoeira tenta se comunicar
mas não é compreendida.
Nas águas que rolam
há uma denúncia de poluição dos rios.

Agora é tarde,
faz tempo que soou o alarme,
mas os homens continuaram
cavando o coração da terra
e aumentando o tamanho do buraco.

O abismo já está pronto,
à espera dos corpos
que ali serão jogados
pelo desastre ecológico

Rio soluçante!
A tua correnteza
era de água cristalina.
Mas a poluição das fábricas
tirou o teu brilho.

O que hoje corre
no teu leito
são tuas lágrimas cheias
de lodo e espuma.

Ao invés de cantar,
o teu grito é de dor...

A natureza
não tem compromisso
com o homem,
que é um animal
como outro qualquer.

Como dizia Herman Hesse,
tanto a minhoca
como a humanidade
são tratados da mesma
maneira.

O compromisso
da natureza
é com a vida.

Tem gente que acha,
que para evitar o desmatamento,
basta plantar outra árvore
no local da que foi derrubada.

Só esquecem de que a vitimada
já estava lá há 100 anos
enquanto que a nova
vai demorar a crescer.

Quanta ilusão a desta gente
achando que pode trocar
o presente pelo futuro,
que para a espécie humana
dificilmente irá existir.

Preparem-se para receber a notícia
a qualquer momento,
está chegando a hora de acertar as contas.
Tudo que o homem tirou da terra
virou poluição
e a vida humana se transformou
num imenso deserto de idéias.

Agora vamos aprender a comer
a poeira das estradas,
que tem um gosto amargo
de sangue.

As rosas
do buquê de flores
que você deu
para a sua amada
foram arrancadas
da roseira,
que chorou de dor
a tarde inteira.

Existem 2 tipos
de Inteligência:
a 1ª serve ao lucro
e se vende por qualquer dinheiro.
A segunda serve ao humanismo
e planta árvores.

A 1ª destrói a natureza.
A 2ª tenta salvá-la
mas em vão.

77 - SORTE

Chegamos até aqui vivos,
o que mais podemos querer?

Por enquanto estamos com sorte,
não estávamos em Nova Orleans,
quando o Katrina passou por lá,
nem na ilha de Sumatra,
dividida em duas partes
pela força do tsunami asiático

Milhares de pessoas mortas
e milhões de desabrigados e famintos.

Chegamos até aqui vivos,
mas até quando vai durar
a nossa sorte
se os homens continuarem
cavoucando a terra
e poluindo o meio ambiente?

A natureza segue os nossos passos.
Os dias da humanidade
já estão contados.

Todos devem ler
o livro de Martins Rees,
que alerta para o
desastre ambiental
ameaçando o futuro
da humanidade.

“A nossa chance de sobreviver
até o fim deste século
não passa de 50%.”

A hora final ainda parece distante,
mas em termos de tempo
tudo passa num piscar de olhos.

E a florzinha,
que nascia,
perguntava à roseira,
que crescia,
quando ela seria tocada
pelo bico dos beija-flores.

E a roseira, resignada
e cheia de espinhos respondia:
- nós somos flores enxertadas
pela poluição do homem
e, no lugar do néctar,
temos sangue contaminado.

Você nunca será tocada
porque beija-flor não é vampiro.

[Terra em transe]