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ÁLBUM DE FIGURINHAS DAS BALAS RUTH |
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Em outubro de 1997 apareceu na Feira de Colecionadores do Rio de Janeiro um extraordinário catálogo de álbuns de figurinhas organizado pela Professora Emérita da UFRJ Margarida N. Menezes. A abrangente pesquisa selecionou 1793 álbuns publicados até o mês de agosto de 1997. Como se esta trabalheira toda não bastasse, a colecionadora teve ainda a gentileza de distribuir vários catálogos como cortesia. Qualquer um que folhear este documento fica surpreso com a quantidade de temas e assuntos tratados. Foi também aqui que eu aprendi que a história das figurinhas no Brasil começou em 1907/08 com o lançamento da coleção de 60 bandeirinhas da tabacaria Estrela de Nazareth. Quase vinte anos depois é que começaram a aparecer as famosas estampas Eucalol (1925/26), que foram editadas até cerca de 1965. Mas é a partir de 1934, com o lançamento de 5 álbuns, que a coleção de figurinhas começa a pegar para valer. Entre os mais famosos podemos citar A Holandeza, Marcapito, Solar, balas Cinédia, balas Futebol, Azas da Vitória, balas Fruna e vários outros, que preenchiam o imaginário infantil e o dos colecionadores.Os álbuns, através da comunicação visual de suas figurinhas coloridas, eram uma fonte extraordinária de cultura e conhecimentos gerais. |
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Com o término da segunda guerra em 1945, o mundo mergulhou, por algum tempo, num enorme vazio. Um dos personagens mais deslumbrante da cidade daqueles tempos eram os jornaleiros, que vendiam as revistas de Histórias em Quadrinhos. Mas, quando ninguém esperava, começou timidamente a aparecer( foi lançado em 1950) aquele que seria o álbum mais importante do século XX no Brasil, a ponto do colecionador pioneiro e meu grande mestre Jorge Pinto Coelho perguntar, no jornal do Banerj de 1981, "quem não se lembra deste álbum", e ele mesmo respondia: - só quem não teve infância.Quem viveu a década de 50 no Rio de Janeiro (não sei como foi nos outros lugares) sabe que a cidade inteira estava mergulhada em colecionar as maravilhosas figurinhas das balas Ruth. Trocar, vender, comprar figurinhas para completar o álbum e ganhar os prêmios como bicicletas, bolas de futebol etc,(saía mais barato comprar os prêmios do que ganhá-los), transformou-se numa verdadeira obsessão , febre mesmo de 40 graus. |
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| Ao abrir o álbum
nos deparamos com uma linda fada, desenhada por N.Petti, como que nos convidando
para sermos colecionador e, puxando uma cortina mostra uma tabuleta com
um pequeno texto onde, entre outras coisas, se lê que o álbum
é um passatempo destinado a nos fazer relembrar inúmeras maravilhas
existentes na terra, o grande número de obras primas além
de prestar uma pálida homenagem aos grandes vultos dos mais variados
ramos do saber e etc... Por uma ironia do destino, criança que eu era, transformei-me num vendedor mirim de figurinhas. A minha historia aconteceu na Tijuca, bairro que naquela época estava cheio de casas de cômodos, habitadas, principalmente, por pessoas da classe média baixa, e que colecionavam, com muita paixão já que a televisão, que começava a aparecer, era ainda coisa de rico. No meio de tudo isto havia o bar do seu Manoel, onde um grupo de homens se reunia para beber, conversar e jogar purrinha, com as figurinhas das balas Ruth, onde, diariamente, abriam dezenas de caixas, ganhando a rodada aquele que tirava a numeração mais alta. E, entre eles, estava o Chico que separava as melhores figurinhas e me dava para vender, a base de 10% de comissão, nestas casas onde fiz muitos amigos, visitando os quartos onde moravam, para ver, com que orgulho, eles me mostravam os seus álbuns. |
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Pelas
minhas mãos passaram milhares de figurinhas, mas eu nunca consegui
completar o meu próprio álbum, faltando as quatro mais difíceis,
e que todos nós corríamos atrás: o Açúcar,
a Casa de Madeira, a Locomotiva de 1877 e o Shakespeare. OBS: |
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Autor:
Paulo Bodmer, Prof. de Cultura da UFRJ
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