A
Turquia No Século XVI
(Como
o tempo passa e modifica o mundo)
O
mais forte Estado que pareça haver ao presente no mundo
(século XVI), é o dos turcos: povos igualmente formados
na estima das armas e no desprezo das letras. Roma, acho-a mais
valorosa antes de tornar-se sábia. As mais belicosas nações
dos nossos dias são as mais grosseiras e ignorantes. Servem
de prova os citas, os partas e Tamerlão. Quando os Gôdos
devastaram a Grécia, o que salvou do fogo todas as bibliotecas
foi esta opinião, propalada por um deles: que era mister
deixar aos inimigos todos aqueles trastes, próprios para
desviá-los do exercício militar e entretê-los
em ocupações sedentárias e ociosas. E quando,
sem tirar a espada da bainha, o nosso rei Carlos VIII (1470-1498),
se viu dono do Reino de Nápoles e de boa parte da Toscana,
a atribuíram, os senhores do seu séquito, essa inesperada
facilidade de conquista a andarem os príncipes e os nobres
da Itália mais ocupados em fazer-se engenhosos e sábios
do que vigorosos e guerreiros. (Michel de Montaigne 1533-1592)
Fonte:
Montaigne, M. "Seleta dos Ensaios de Montaigne",
liv. José Olympio, coleção Rubaiyát,
Rio, 1961, vol. 1/3, 303 págs.